O que é ser inteligente? Como podemos aproveitar melhor as várias capacidades que possuímos para sermos mais realizados no trabalho e na vida? O que quem aprende ou ensina precisa levar em consideração para ser mais eficaz? Estas perguntas, sem dúvida, permeiam a mente de muitas pessoas com relação a si mesmas e, também, com referência aos outros. O GPSEB (Grupo de Pesquisa em Secretariado Executivo Bilíngue) por meio de um projeto interestadual e interdisciplinar, com a participação das Profas. Keila Wenningkamp, Patrícia Battisti e Caroline Vaz, iniciaram uma reflexão sobre essas questões tendo como norte os cursos de Secretariado Executivo da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Toledo e da Universidade de Passo Fundo (UPF).

Mensurar o quanto alguém é inteligente, ou não, é algo complexo. Que base se tem para chegar a tal definição? Nesse contexto, diversos estudos foram realizados no decorrer dos anos, incitando discussões sobre a definição de inteligência, entre eles, destacam-se as contribuições de Gardner (1994, 1995, 2011) e Armstrong (2001, 2009). O psicólogo francês Alfred Binet (1904) foi precursor em pesquisas sobre inteligência. Seu estudo resultou nos testes baseados em escores de QI (Quociente de Inteligência) e serviu de estímulo para novos estudos sobre o assunto. O psicólogo Howard Gardner, juntamente com pesquisadores de Harvard, dedicou suas pesquisas para o estudo da inteligência, resultando, na década de 1980, na teoria das Inteligências Múltiplas (teoria das IMs). Esta teoria, e suas adaptações, defendia a existência de nove tipos de inteligências, sendo elas: linguística, lógico-matemática, espacial, musical, cinestésico-corporal, naturalista, intrapessoal, interpessoal e existencial.

De acordo com Armstrong (2009), Gardner buscou ampliar, com a teoria das IMs, a análise da capacidade dos seres humanos para além das quantificações de QI, ou seja, demonstrar que a inteligência de uma pessoa não poderia se resumir somente a números, mas, considerar a capacidade dela em resolver problemas e criar produtos em determinados ambientes e cenários. Antunes (2005) acrescenta que essa visão sobre a inteligência, proposta por Gardner, permite observar que um indivíduo não possui apenas uma inteligência, mas um conjunto extremamente diversificado de diferentes inteligências, as quais, desde que estimuladas, alteram a concepção que o ser humano tem de si mesmo, de seus limites e possibilidades.

Com a teoria das IMs, Gardner (1995) deixa clara a pluralidade do intelecto, uma vez que indivíduos podem se diferenciar em seus perfis particulares de inteligência, bem como podem essas inteligências funcionar em conjunto para resolver os mais diversos problemas nas mais variadas situações. Assim, Green et al. (2005) lembram que a Teoria das IMs engloba funções de cognição, de adaptação, de competência, de complexidade, de percepções, de assimilação e de compreensão. Portanto, a teoria das IMs pode contribuir na compreensão de como os alunos aprendem e, consequentemente, melhorar o processo de ensino-aprendizagem.

Diante desse cenário, especificamente sobre o Curso de Secretariado, emergiram algumas reflexões (Battisti et al. (2017), Wenningkamp et al. (2017) e Vaz et al. (2018)), como: no contexto acadêmico, nos cursos de graduação em Secretariado essas inteligências podem ser estimuladas? O que a identificação das inteligências pode proporcionar ao processo de ensino-aprendizagem?

Nessa perspectiva, a teoria das IMs é apresentada como fator que pode contribuir na compreensão de como os alunos aprendem e, consequentemente, melhorar o processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, um dos pressupostos básicos da teoria de Gardner é a necessidade de respeitar as diferenças dos indivíduos com relação à forma como aprendem, tirar proveito das diferenças ao invés de inibi-las, o que pode propiciar um espaço diferenciado e enriquecedor no processo de ensino-aprendizagem.

Nesse espaço diferenciado, o professor passa a considerar as habilidades dos alunos em cada uma das inteligências mencionadas por Gardner. Fleetham (2006) corrobora que a partir do momento em que se consideram as habilidades e os talentos em nove áreas diferentes, o leque de opções e possibilidades do que é o processo ensino-aprendizagem aumenta consideravelmente. E, consequentemente “quando os indivíduos têm oportunidades de aprender através de seus potenciais, mudanças cognitivas inesperadas e positivas, emocionais, sociais e até físicas ocorrerão” (CAMPBELL; CAMPBELL; DICKINSON, 2000, p. 23).

Uma dessas mudanças é o aumento da autoestima do educando. Ao valorizar as diferentes habilidades e reconhecer talentos outros que os tradicionalmente valorizados pela academia, identificados em testes de QI, por exemplo, as IMs expandem o que é considerado sucesso, o que colabora para a autoestima e, consequentemente, a automotivação (FLEETHAM, 2006). A motivação, como amplamente divulgada nos estudos em educação, está entre um dos principais fatores para facilitar a aprendizagem. Boruchovitch (2008) destaca que o aluno motivado desenvolve habilidades, realiza mais tarefas e supera desafios.

Armstrong (2009, p. 72) acredita que a teoria das IMs “oferece ao professor a oportunidade de desenvolver estratégias de ensino inovadoras”, ao mesmo tempo em que, permite observar que “não existe um conjunto de estratégias que funciona melhor para todos os alunos”. Antunes (2004, p. 33-35) acrescenta que os professores que trabalham em sala de aula com as IMs transformam a tradição do discurso, pela ação conjunta de explorar outros meios de informação; proporcionam experiências práticas, estimulando a expressão corporal; estabelecem múltiplas interações entre os alunos, permitindo maior reflexão; permitem momentos de autorreflexão, entre outras estratégias inovadoras que conduzem a uma aprendizagem significativa.

São sobre essas questões que gostaríamos de convidá-los a refletir no COINS 2019 e apresentar para vocês essa pesquisa aplicada a cursos de secretariado, pois como afirma Armstrong (2009), pensar a sala de aula colocando em prática a utilização das IMs pode ter uma consequência essencial na mudança de mentalidade do educador e do educando, o que reflete necessariamente na maneira de ensinar, de aprender, de avaliar e ser avaliado.

Clique aqui [+] para baixar o PDF.
Compartilhe!