Por Profa. Dra. Rosimeri Ferraz Sabino (UFS)

A extensão universitária, ao lado do ensino e da pesquisa, constitui o tripé sobre o qual se estrutura a universidade brasileira, sendo elemento essencial para a formação integral dos estudantes. No campo do Secretariado, a prática extensionista assume papel estratégico, pois conecta a formação acadêmica às demandas reais do mercado de trabalho e da sociedade, criando espaços de aprendizagem que ultrapassam os limites da sala de aula.

Historicamente, a extensão universitária passou por transformações significativas. No Brasil, iniciou-se com práticas de caráter assistencialista e difusão de conhecimento, evoluindo para uma concepção mais ampla, pautada na interação dialógica entre universidade e sociedade. A partir da Constituição Federal de 1988, consolidou-se a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, exigindo que as três dimensões sejam articuladas e complementares. A Resolução CNE/CES nº 7/2018 e a Meta 12.7 do PNE 2014-2024 reforçaram essa perspectiva, estabelecendo que, no mínimo, 10% da carga horária total dos cursos de graduação deve abarcar programas ou projetos de extensão, priorizando áreas de relevância social.

No caso dos cursos de Secretariado, a curricularização da extensão exige ajustes nos Projetos Pedagógicos de Curso (PPCs) e uma reorganização das práticas formativas. Esse processo, embora necessário, traz desafios. Em primeiro lugar, há o desafio administrativo e pedagógico de alinhar os conteúdos curriculares às atividades de extensão, sem fragmentar a formação ou comprometer a carga horária destinada a outros componentes essenciais. Diversas universidades encontram desafios ao elaborar resoluções internas que integrem, de forma equilibrada, a carga horária, a tipologia das atividades e os critérios de avaliação.

Outro desafio é o desconhecimento, por parte de docentes e discentes, sobre o conceito e o potencial da extensão. É preciso ampliar a compreensão sobre a extensão como prática transformadora e não apenas como requisito legal. A superação desse desafio depende de capacitação dos professores, disseminação de experiências bem-sucedidas e incentivo à participação dos alunos em projetos consolidados.

A integração efetiva entre teoria e prática é um ponto central. No campo do Secretariado, habilidades como comunicação, organização, gestão de processos, mediação de conflitos e utilização de tecnologias se consolidam de maneira mais eficaz quando colocadas em prática em situações concretas. Os projetos de extensão viabilizam essa aplicação prática, oferecendo ao estudante a oportunidade de lidar com problemas reais, interagir com diferentes públicos e aprimorar sua sensibilidade social, competências importantes para a atuação profissional.

Os impactos da extensão na formação profissional do Secretariado são múltiplos. No plano técnico, o estudante aperfeiçoa competências operacionais e de gestão, vivenciando métodos de trabalho que serão aplicáveis em sua futura atuação profissional. No plano intelectual, o discente amplia seu repertório cultural, fortalece o pensamento crítico e desenvolve autonomia na resolução de problemas. No plano social, o aluno consolida valores como empatia, responsabilidade e ética, compreendendo que a prática do Secretariado contribui diretamente para o desenvolvimento organizacional e comunitário.

Projetos de extensão voltados a assessorias administrativas em organizações sem fins lucrativos, apoio a eventos culturais, capacitação em tecnologias de comunicação e gestão, e produção de materiais institucionais para entidades sociais contribuem para o desenvolvimento acadêmico do estudante e geram impacto direto na sociedade. Ao vivenciar esses contextos, o discente de Secretariado aprende a lidar com realidades complexas, recursos limitados e diferentes perfis de público, habilidades que dificilmente seriam desenvolvidas apenas no ambiente acadêmico tradicional.

Entretanto, para que esses impactos sejam plenamente alcançados, é necessário superar obstáculos práticos. A insuficiência de recursos financeiros e logísticos, a sobrecarga de trabalho docente, a falta de parcerias externas e a escassez de acompanhamento sistemático das ações são barreiras recorrentes. Além disso, a integração das atividades de extensão com a pesquisa ainda é um ponto a ser fortalecido, de modo que as experiências em campo possam gerar conhecimento sistematizado e retroalimentar o ensino.

No contexto contemporâneo, a extensão no Secretariado também precisa dialogar com tendências globais, como a transformação digital, a internacionalização e a sustentabilidade. Projetos que envolvam tradução e interpretação, gestão de informações em ambientes digitais, elaboração de relatórios bilíngues, organização de eventos híbridos e consultoria em processos sustentáveis ampliam as oportunidades de formação e colocam o estudante em contato com exigências do mercado de trabalho atual.

Assim, a extensão universitária não pode ser vista apenas como cumprimento de uma exigência legal, mas como uma estratégia formativa fundamental. Para o Secretariado, ela é a ponte que conecta a sólida base teórica obtida em sala de aula ao dinamismo e à imprevisibilidade das demandas profissionais. Ao proporcionar vivências reais e socialmente relevantes, a extensão prepara o futuro profissional para atuar com competência técnica e consciência cidadã, tornando-o apto a contribuir às organizações em que trabalhará e à sociedade.

Consolidar a extensão como prática formativa integrada exige, portanto, um esforço conjunto de gestores, docentes e discentes. É preciso garantir que os PPCs reflitam essa integração, que haja suporte institucional para a execução dos projetos e que a avaliação das atividades extensionistas seja tão criteriosa como a dos demais componentes curriculares. Mais do que um requisito, a extensão é um investimento na qualidade da formação profissional e na capacidade de transformação social que a universidade pode exercer.

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